Por
aqui, continuam as celebrações da semana santa, que começaram a 30 de Março e
terminaram a 8 de Abril. A Semana Santa é um dos acontecimentos mais
importantes aqui em Ceuta. Muitas pessoas dedicam esta semana para praticar as suas
atividades religiosas, enquanto outros procuram o descanso. Cada igreja tem uma
confraria, que é responsável pela saída dos passos (andores), como foi referido
no post anterior e são precisas 40 pessoas para transportar no costado as
imagens religiosas.
O
início da Semana, ficou marcado por um regresso ao já conhecido “Descanso del
Guerrero”, onde comemos tapas e bebemos umas cervejas na companhia de Juanmi,
Cristina, Godino e Martina.
Pela
tarde de terça-feira a Mipa e a Marta, foram ter com o Juanmi,Cristina,Godino e
Martina para assistirem a mais uma procissão da semana Santa, o encontro da
Virgem com Cristo. No caminho para a igreja de África, pararam para lanchar,
onde conversaram sobre a confraria que iriam ver, neste caso a da irmã de Juanmi.
Neste dia a procissão foi um pouco diferente, no sentido em que esta era
acompanhada pela “ Legión”, uma unidade militar, que no momento em que os dois
andores se aproximam começam a cantar a música do legionário. O legionário “como
reza “ a lenda foi um homem que morreu na guerra, e foi encontrada uma carta no
seu bolso para a sua amada, das suas palavras foi feita a canção da Legión. Foi
o momento mais precioso da procissão, todo o público que estava presente
cantava juntamente com estes homens. Este dia é extremamente vivenciado pela
população de Ceuta, sendo este o que mais pessoas envolve.
No
dia seguinte, fomos com o Juanmi, oficializar os papéis para sermos
reconhecidos como “Caballas” (denominação dos autóctones de Ceuta)
O mau tempo continuou durante toda a semana, e como
o dia mais uma vez não nos deixava pensar em grandes aventuras, procurámos, por
uma brecha de sol no céu cinzento e assim que a avistámos, saímos prontamente
de casa. Fomos em direção ao centro da cidade e como que de repente, surgiu-nos
a ideia de jogar uma partida de bilhar. Pois bem, encontrámos então algo
parecido a um café, com um amplio salão onde se jogava às cartas e também
dominó acompanhado, tanto por uma cerveja como por um café com leite. No fundo
deste salão encontravam-se então as bem ditas mesas de bilhar que desde logo
nos prendaram a atenção por algum tipo de raridade. De facto estas mesas,
tinham algo que nos parecia estranho: aqui não se jogava a pagar consoante o
tempo, mas sim igual ao modo como jogamos matraquilhos. Sim! Antes de cada jogo
tivemos que colocar 3 moedas de 0.50 cent. numa ranhura e empurrar a alavanca!
Pois bem, características da mesa à parte, foram 3 partidas bem disputadas em
que todos os envolvidos se divertiram bastante e recordaram alguns velhos
hábitos. Para terminar o dia, o Fred teve a amabilidade de confeccionar um
delicioso “Revuelto” e o grupo pôde disfrutar assim de um jantar convívio
seguido de uma sessão de cinema. Diga-se de passagem que este tempo, apela a
isso mesmo à comida e ao quentinho do sofá a ver filmes. De todas as sessões de
cinema que fizemos durante a semana destaca-se uma, “O contador de histórias”.
Um filme brasileiro, onde Roberto, um menino de 6 anos de idade é deixado pela
mãe, numa entidade assistencial, que tem a esperança de lhe estar a
proporcionar as melhores condições de vida. Porém, aos 13 anos, Roberto contínua
analfabeto, tem mais de 100 fugas e várias infrações no currículo e é
considerado "irrecuperável". Mas o encontro com uma pedagoga francesa
(papel interpretado pela atriz Maria de Medeiros) mudou para sempre a sua vida.
No
final da semana, este grupo de portugueses com ganas de “hacer cosas”, e de
usufruir das poucas brechas de sol que foram surgindo, aproveitaram para
conhecer e saborear, sítios e sabores muçulmanos. Foram à pastelaria Manhattan,
onde comeram uma sobremesa denominada Sasha, cujo sabor foi difícil de
decifrar, pois era uma mistura de batido de banana, com pedaços de fruta e com
um travo salgado dos frutos secos, seguiu-se um passeio por um bairro muçulmano,
onde as ruas estreitas e as Medinas se destacaram.
O
fim-de-semana chegou e ao contrário do que é habitual no sábado não se realizou
o jantar comunitário, ficando adiado para a próxima semana em virtude de
“celebrarmos” o Domingo de Páscoa. No entanto o Fred, a Mipa, a Marta e a Vanessa
fizeram um delicioso bacalhau com natas e terminaram o serão numa longa
conversa onde partilharam saberes e conhecimento do dia-a-dia de cada um,
inclusivé sobre a família.
No
domingo, a Ana regressou de Portugal e com ela trouxe algumas coisas que nos
puderam recordar do típico almoço de Páscoa, o folar e as amêndoas. O bando
agora completo, pode realizar o almoço de Páscoa, saboreando a conhecida “Carne
de porco à portuguesa”. Pela tarde, o bando foi tomar café com Carmen (uma
estudante de ciências ambientais que esteve de Erasmus na bélgica) e com Hissam
Mohamed, num pub típico Inglês onde estiveram à conversa sobre toda a experiência
Erasmus. O dia para a Mipa e para o Fred terminou com um jantar em casa da
D.Lurdes (Mãe de Carmen), para a Marta e a Vanessa terminou nas bocatas José e
já a Ana foi recarregar baterias devido ao cansaço da viagem.
Para
finalizar esta 8º semana e tal como prometido, aqui vos deixamos com os nossos
relatos.
"Eu queria conhecer uma realidade diferente, levar um modo
de vida diferente, conhecer pessoas diferentes, sair da minha zona de conforto,
aprender com a escola da vida e acima de tudo desenvolver-me enquanto pessoa e
enquanto profissional. E sabem o que fiz para saciar todos estes meus quereres
não sabem? Claro está claro que vim de ERASMUS… e não foi para um sítio
qualquer, foi para Ceuta.
E agora se me perguntarem: “Se pudesses resumir a tua
estadia até então em terras africanas, por algumas palavras, quais seriam?”, eu
optaria por dizer 5, pegando nas letras do nome da cidade .
Ceuta a meus olhos é uma cidade única pela multiculturalidade, paisagem e forma de viver que
apresenta e estagiar num sítio como este está a ser bastante interessante e enriquecedor. A realidade que aqui se
vive, voltando-me mais para a delinquência e o trabalho dos educadores sociais,
está a ser uma “mina de ouro” para a nossa aprendizagem
e obtenção de conhecimentos. Além do
mais quando estamos num sítio diferente podemos realizar uma troca recíproca, por
mim denominada “transmissão com
retorno”, de ideias, metodologias, formas de actuar perante determinadas
realidades, etc. , provenientes de países diferentes sendo portanto realidades
também elas diferentes mas complementares.
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Ana Soares
Papaqueio
a minha experiência de Erasmus com embalo e alegria mas é difícil descrever em
poucas palavras tudo aquilo que fui vivenciando neste comboio de experiências.
Cada carruagem tem uma história que ficará guardada na minha memória,
certamente que vou levar daqui uma bagagem carregada de conhecimento,
experiências, momentos e de histórias
para contar.
É
verdade que foi difícil trocar o meu “porto seguro” pelo completo desconhecido
mas, é verdade também que essa troca me tem proporcionado um verdadeiro “curso”
intensivo de flexibilidades, conhecimentos e interações culturais. É uma fusão
tão fantástica que acaba por se tornar indiscritível.
Aprende-se
a gerir trocos, a falar uma nova língua, a cruzar o lazer com as responsabilidades
do trabalho e dá-se um salpicado multicultural à rede de amigos. O dia-a-dia, a
saudade, as caras novas, os problemas que enfrentamos, o sentir de outros ares,
a partilha de espaço, o respeito desse mesmo espaço e as relações
interculturais é o que me move a querer viver tudo isto, é o que me tem vindo a
fazer crescer.
Esta
experiência é inesquecível! É como viver uma vida completamente nova somente no
tempo em que dura o Erasmus. Estou a aproveitar, a viver e reter tudo o que
isto me tem vindo a proporcionar.
Pouco
antes de rumar neste shaker de vivências, Soraia, uma amiga nossa que se
encontra a fazer Erasmus na Turquia, transcreveu-me um excerto de Gonçalo
Cadilhe que dizia: “Sei que viajar
proporciona alguns dos dias mais intensos e felizes da tua vida. Ainda mais se
fores tu a decidir o teu itinerário, as tuas etapas e os teus interesses. A
viagem será tão mais intensa e feliz quanto mais for tua”. E a viajem está, sem sombra de dúvida, “a ser
minha".
Saudades,
Mipa
“ Ceuta, cidade de
poetas, filósofos, guerreiros, marinheiros e agora também de estudantes,
constitui sem dúvida pelas suas características geográficas e culturais um
local de grande aprendizagem para quem por aqui passa. Após dois meses para lá
do estreito já me consigo sentir um bocadinho em casa, uma casa de paredes
brancas com uma mirada para o mar e para a montanha, uma mirada para a mesquita
e para a igreja, uma mirada para áfrica e outra para a europa… Isto é Ceuta: a
porta de entrada e saída para dois mundos diferentes. Uma grande porta
invisível e intocável mas cheia de sensações tão peculiares como só aqui se
pode sentir. Agora que restam dois meses
mais de aventura posso dizer que já um longo caminho foi percorrido por estas
ruas e bairros tortuosos mas jamais posso prever o que poderá a vir a acontecer,
pois todos os dias são uma incógnita e nunca sabemos o que esperar… Assim é
Ceuta, enigmática, misteriosa, encantadora… A pérola do Mediterrâneo que por
tantos anos foi disputada entre reis, imperadores e generais agora rende-se ao
olhar inquieto de um português curioso, cheio de vontade de a conquistar e ser
conquistado por ela…”
Frederico
Nunes Jorge
Ceuta , 14 de Abril de 2012
Ceuta , 14 de Abril de 2012
Quando dou por mim a pensar, é um turbilhão de
sentimentos. Por um lado, estou muito feliz por estar a passar momentos tão
inesquecíveis, tanto a nível de formação como pessoal. A nível de formação é a
possibilidade que estou a ter, de estar integrada numa equipa de trabalho no
contexto da interculturalidade, que posteriormente vai ser uma mais-valia na
minha profissão, o contacto que estou a ter com esta realidade, ou seja, toda esta
aprendizagem e participação vai promover-me na minha vida futura. A nível
pessoal, está a permitir-me consolidar conhecimentos, está a ser um exercício e
valorização de competências e desenvolvimento de outras, como ainda testar a
minha auto-confiança e autonomia fora do meu contexto, da minha cultura. Por
outro lado, estou um pouco triste porque sinto muitas saudades, da família e
amigos.
A parte disso, eu acho que as saudades
mostram-me uma realidade diferente da que eu imaginei para mim. Pessoas das
quais nunca imaginei que estaria distante. Algumas das mais especiais que
encontrei, com certeza. Outras que eu nunca achava que o tempo poderia afastar.
Pessoas que estão perto, mas muito além do meu alcance.
A única coisa que me consola (não diminui a
saudade, mas ajuda a suportá-la) é saber que grande parte das ausências foram
motivadas por circunstâncias diversas, e os caminhos que tomei estão a ser
bonitos e condizentes com os meus sonhos e desejos.
Marta Luciano
“Ceuta
que seja assim um ir para fora para crescer por dentro” foi desta forma que
terminei o meu texto de motivação antes de embarcar nesta viagem. Na bagagem
apenas trazia o conhecimento adquirido em 2 anos e meio, o carinho e apoio da família
e amigos, e uma grande vontade de relatar e viver na primeira pessoa a
experiência Erasmus. Agora o percurso desta viagem está a meio, a bagagem pouco
a pouco vai ganhando o seu peso. Tem sido muito gratificante estar neste lugar
de encontro de dois mares Mediterrâneo e Atlântico, e berço de quatro culturas,
a Muçulmana, a Hindu, a Cristã e a Hebraica.
Há
quem diga que a sabedoria não nos é dada. Cora Coralina dizia, “Saber a gente aprende com os
mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os
humildes.". É preciso descobri-la por nós mesmos
e eu estou a fazer o meu percurso, tenho tido oportunidade
dia após dia acelerar o processo de me tornar independente, melhorar a minha
capacidade de comunicação em Espanhol, conhecer novas pessoas, adquirir e
vivenciar novas experiências e quem sabe estar a abrir horizontes para a vida
profissional que se avizinha.
Juanmi,
José António, Jafida, Chadi, Eva Ramírez e Ana são estes alguns dos nomes que me
ajudaram a ver o mundo com outro olhar. “A Verdadeira viagem não está em sair a
procura de novas paisagens, mas em possuir novos olhos” Marcel Proust
Os
meus gestos não conseguem tocar em todas as pessoas, apenas naquelas com quem
partilho o meu dia-a-dia, e as palavras essas chegarão longe. Por isso espero
que estas cheguem a todos vocês, em especial aos que me dizem muito.
Vanessa Almeida
Somos Vanessa y Javi, vuestros compañeros de curso. Esperamos que hayais disfrutado de nuestra ciudad y que os lleveis un recuerdo bonito. Besoss
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