Eis que chegou a sexta jornada do bando em terras africanas, pois é, parece
que já lá vão uns dias valentes de aprendizagem, e no cesto desta viagem já
consta um molho imenso de experiências, um punhado idêntico de sensações e um
frasco de maturação daqueles que custam a abrir e que não deixam sair a
essência do seu conteúdo.
Numa perspectiva geral da semana se esta fosse feita através de um mapa,
seria rua acima rua abaixo, local de estágio, casa, faculdade … mas tal como o
nome da semana o indica, a simplicidade aparente não dita o que de abrangente
se aprende.
Começámos bem, para não variar, com uma sessão sobre entrevistas orientada
e aconselhada pelo nosso caro José António. Desta pudemos retirar o mais
importante da realização de uma entrevista, recomendações, tópicos para a sua
correcta elaboração, aplicação e ainda formas de interpretar o conteúdo nas
mesmas.
Quanto aos estágios, podemos dizer, num sentido figurado, que nos
encontramos em “modo-esponja” pois a cada dia que passa “absorvemos” mais e mais
conhecimentos relativos à área de intervenção escolhida.
Particularizando o estágio de Ana, Mipa e Fred, ao longo desta semana,
estes tiveram a oportunidade de acompanhar os Educadores Sociais, Paco e Javi,
ao que se chama “trabajo de calle”, onde puderam analisar o mais importante
neste tipo de intervenção, o acompanhamento pessoal, o contacto com o menor,
com a sua família, professores, ou seja, todas as pessoas que de alguma forma se
relacionam com o mesmo.
Aproveitando que estamos a voltar-nos para o cariz mais prático, é
pertinente referir que ao longo desta semana, Ana, Mipa e Fred também tiveram a
oportunidade de assistir a dois julgamento.O primeiro foi realizado com o
objectivo de obter a alteração da medida, uma vez que o menor não cumpriu nada
do que lhe fora imposto, e o segundo para aplicação de uma medida de 9 meses de
internamento a uma menor que foi detida com 1,400 kg de haxixe
enquanto tentava efectuar a travessia de barco para Algeciras.
O mais curioso desta semana, mais concretamente destes
dois julgamentos, verificou-se no facto de, a realização e participação nas
audiências coincidir justamente com os dias em que os três estagiários fizeram
a formação teórica referente à especificidade das duas medidas aplicadas.
Relativamente à formação que estão a obter é consensual
que a aprendizagem até ao momento está a ser muito maior aqui, do que num
semestre de aulas em Portugal, e isto deve-se à realidade que os rodeia, equipa
que os acompanha e especialmente ao Francisco que lhes está a transmitir a
essência do trabalho dos Educadores Sociais. E é óptima a sensação de poder
aprender e estar perante um profissional que sabe efectivamente como intervir
neste tipo de realidade, ainda para mais quando sabemos que o seu processo de
formação foi inverso, começando ao contrário do habitual, a trabalhar na rua
junto à realidade em questão.
Falando agora no estágio da Marta e da Vanessa, ao longo
desta semana, estas puderam aprofundar os seus conhecimentos relativos ao departamento educativo do C.A.M (Centro Acesor de la Mujer) e a todo o seu
funcionamento. Em breves palavras, o principal objectivo deste é educar para a
igualdade, desde a Educação Infantil até à Faculdade, passando pelos Maiores.
Deste modo, são realizadas actividades com vista ao desenvolvimento e
valorização pessoal.
No decorrer da semana, as duas estagiárias tiveram a oportunidade de
analisar o processo de cada mulher entendendo o motivo que as leva a recorrer
ao centro C.A.M e também de que forma as actividades oferecidas por este as
conseguem ajudar. Tiveram ainda a oportunidade de conhecer mais detalhadamente
o “taller” de cerâmica, e aprender a técnica do Fimo com Esperança
(coordenadora), aplicando a técnica através da realização de alguma bijutaria.
Chegando ao merecido fim-de-semana,
o dia de Sábado para Marta e Vanessa foi composto por um conjunto de
descobertas inesperadas, pois Jafida, uma das mulheres muçulmanas com quem
trabalham, fez questão de as levar, sem que estas estivessem a contar, a
visitar algumas das cidades de Marrocos.
Puderam também constatar que todas as casas e mesquitas são brancas e azuis como sinal de pureza e protecção. Ao chegar à Medina, tiveram direito a uma visita guiada pelo local histórico e património UNESCO em Marrocos Ali tiveram ainda tempo para as tão desejadas compras, os recuerdos típicos, sempre acompanhadas pelos cheiros intensos e distintos, das especiarias, que pairavam no ar, e são estes que caracterizam este lugar tão difícil de descrever mas tão forte de sentir.
As ruas, essas estavam repletas de vendedores
de frutas, legumes, mobílias, roupas e claro as peças feitas com pele,
conhecidas por toda a parte do mundo (cabedal).
- Sexta-Feira é o dia festivo de
Marrocos ao contrário dos cristãos que é o Domingo.
- 40 Litros de Gasolina = 30€
- Uma botija de Gás = 4€.
- 10 dirham =1 €
- Os táxis em Marrocos ficam a 0,30€
por lugar e não há limite de passageiros, o que significa que podem ir 5/6
pessoas para além do motorista.
No fim desta visita Marta e Vanessa
estavam com muita vontade de provar o pescado marroquino, pois é bastante
falado e apreciado não só pelos marroquinos mas também pelos turistas. Rumaram
então até à cidade de Rincon, onde conheceram um restaurante fabuloso à beira mar
que as deixou encantadas. E o encanto não era só visual, pois as travessas
compostas de variedade de pescado, seguidas de uma agradável sobremesa de
frutas fizeram as delícias das duas portuguesas. Por momentos sentiram-se em
casa, mas com uma diferença …. em Marrocos quatro pessoas comem “a rebentar
pelas costuras” por 35€.
Já todos juntos em casa, terminámos
o dia com o Frederico a preparar o jantar comunitário, e para não variar não
nos decepcionou e inclusivé nos fez remontar às nossas verdadeiras casas ao
sabor de um apetitoso Frango de Fricasé.
Eis que chegou o domingo, dia em que
ansiávamos poder visitar a tão conhecida montanha com um nome já tão conhecido
por estas bandas: “la mujer muerta” pelo seu formato e história. Pois bem, o
tempo não quis ajudar e impediu mesmo que pudéssemos sequer ter a ideia de sair
de casa. (Aqui também faz mau tempo …)
E assim termina mais um episódio da
série “5 Portugueses em Ceuta” em horário indefinido mas com a certeza de que
entre dia 2 e 8 haverá mais para acompanhar...