sábado, 14 de abril de 2012

Semana 8 (02/04/12 a 08/04/12) – i Descanso dos guerreiros ! - Edição Especial


De “Vacaciones”! Foi assim que o bando entrou nesta nova semana. Com mais tempo livre e disponibilidade para dar atenção aos nossos leitores decidimos fazer uma EDIÇÃO ESPECIAL para comemorar os nossos dois meses de estadia aqui em Ceuta. Já contamos com 60 dias na bagagem desta aprendizagem diária, fazer Erasmus é uma experiência única, inexplicável e é preciso vivê-la para se poder compreender. Para além de se poder conhecer novas culturas, línguas e muitos colegas, é um verdadeiro processo de desenvolvimento pessoal onde as nossas competências são postas à prova. Por isso pensámos que o melhor seria, partilhar o impacto que esta experiência tem tido em cada um de nós, mas para já debrucemo-nos sobre os acontecimentos da semana.



Por aqui, continuam as celebrações da semana santa, que começaram a 30 de Março e terminaram a 8 de Abril. A Semana Santa é um dos acontecimentos mais importantes aqui em Ceuta. Muitas pessoas dedicam esta semana para praticar as suas atividades religiosas, enquanto outros procuram o descanso. Cada igreja tem uma confraria, que é responsável pela saída dos passos (andores), como foi referido no post anterior e são precisas 40 pessoas para transportar no costado as imagens religiosas.

O início da Semana, ficou marcado por um regresso ao já conhecido “Descanso del Guerrero”, onde comemos tapas e bebemos umas cervejas na companhia de Juanmi, Cristina, Godino e Martina.



 
Pela tarde de terça-feira a Mipa e a Marta, foram ter com o Juanmi,Cristina,Godino e Martina para assistirem a mais uma procissão da semana Santa, o encontro da Virgem com Cristo. No caminho para a igreja de África, pararam para lanchar, onde conversaram sobre a confraria que iriam ver, neste caso a da irmã de Juanmi. Neste dia a procissão foi um pouco diferente, no sentido em que esta era acompanhada pela “ Legión”, uma unidade militar, que no momento em que os dois andores se aproximam começam a cantar a música do legionário. O legionário “como reza “ a lenda foi um homem que morreu na guerra, e foi encontrada uma carta no seu bolso para a sua amada, das suas palavras foi feita a canção da Legión. Foi o momento mais precioso da procissão, todo o público que estava presente cantava juntamente com estes homens. Este dia é extremamente vivenciado pela população de Ceuta, sendo este o que mais pessoas envolve.
















No dia seguinte, fomos com o Juanmi, oficializar os papéis para sermos reconhecidos como “Caballas” (denominação dos autóctones de Ceuta)



        O mau tempo continuou durante toda a semana, e como o dia mais uma vez não nos deixava pensar em grandes aventuras, procurámos, por uma brecha de sol no céu cinzento e assim que a avistámos, saímos prontamente de casa. Fomos em direção ao centro da cidade e como que de repente, surgiu-nos a ideia de jogar uma partida de bilhar. Pois bem, encontrámos então algo parecido a um café, com um amplio salão onde se jogava às cartas e também dominó acompanhado, tanto por uma cerveja como por um café com leite. No fundo deste salão encontravam-se então as bem ditas mesas de bilhar que desde logo nos prendaram a atenção por algum tipo de raridade. De facto estas mesas, tinham algo que nos parecia estranho: aqui não se jogava a pagar consoante o tempo, mas sim igual ao modo como jogamos matraquilhos. Sim! Antes de cada jogo tivemos que colocar 3 moedas de 0.50 cent. numa ranhura e empurrar a alavanca! Pois bem, características da mesa à parte, foram 3 partidas bem disputadas em que todos os envolvidos se divertiram bastante e recordaram alguns velhos hábitos. Para terminar o dia, o Fred teve a amabilidade de confeccionar um delicioso “Revuelto” e o grupo pôde disfrutar assim de um jantar convívio seguido de uma sessão de cinema. Diga-se de passagem que este tempo, apela a isso mesmo à comida e ao quentinho do sofá a ver filmes. De todas as sessões de cinema que fizemos durante a semana destaca-se uma, “O contador de histórias”. Um filme brasileiro, onde Roberto, um menino de 6 anos de idade é deixado pela mãe, numa entidade assistencial, que tem a esperança de lhe estar a proporcionar as melhores condições de vida. Porém, aos 13 anos, Roberto contínua analfabeto, tem mais de 100 fugas e várias infrações no currículo e é considerado "irrecuperável". Mas o encontro com uma pedagoga francesa (papel interpretado pela atriz Maria de Medeiros) mudou para sempre a sua vida.





No final da semana, este grupo de portugueses com ganas de “hacer cosas”, e de usufruir das poucas brechas de sol que foram surgindo, aproveitaram para conhecer e saborear, sítios e sabores muçulmanos. Foram à pastelaria Manhattan, onde comeram uma sobremesa denominada Sasha, cujo sabor foi difícil de decifrar, pois era uma mistura de batido de banana, com pedaços de fruta e com um travo salgado dos frutos secos, seguiu-se um passeio por um bairro muçulmano, onde as ruas estreitas e as Medinas se destacaram.




O fim-de-semana chegou e ao contrário do que é habitual no sábado não se realizou o jantar comunitário, ficando adiado para a próxima semana em virtude de “celebrarmos” o Domingo de Páscoa. No entanto o Fred, a Mipa, a Marta e a Vanessa fizeram um delicioso bacalhau com natas e terminaram o serão numa longa conversa onde partilharam saberes e conhecimento do dia-a-dia de cada um, inclusivé sobre a família.



 

No domingo, a Ana regressou de Portugal e com ela trouxe algumas coisas que nos puderam recordar do típico almoço de Páscoa, o folar e as amêndoas. O bando agora completo, pode realizar o almoço de Páscoa, saboreando a conhecida “Carne de porco à portuguesa”. Pela tarde, o bando foi tomar café com Carmen (uma estudante de ciências ambientais que esteve de Erasmus na bélgica) e com Hissam Mohamed, num pub típico Inglês onde estiveram à conversa sobre toda a experiência Erasmus. O dia para a Mipa e para o Fred terminou com um jantar em casa da D.Lurdes (Mãe de Carmen), para a Marta e a Vanessa terminou nas bocatas José e já a Ana foi recarregar baterias devido ao cansaço da viagem.




    

Para finalizar esta 8º semana e tal como prometido, aqui vos deixamos com os nossos relatos.
"Eu queria conhecer uma realidade diferente, levar um modo de vida diferente, conhecer pessoas diferentes, sair da minha zona de conforto, aprender com a escola da vida e acima de tudo desenvolver-me enquanto pessoa e enquanto profissional. E sabem o que fiz para saciar todos estes meus quereres não sabem? Claro está claro que vim de ERASMUS… e não foi para um sítio qualquer, foi para Ceuta.
E agora se me perguntarem: “Se pudesses resumir a tua estadia até então em terras africanas, por algumas palavras, quais seriam?”, eu optaria por dizer 5, pegando nas letras do nome da cidade .
Ceuta a meus olhos é uma cidade única pela multiculturalidade, paisagem e forma de viver que apresenta e estagiar num sítio como este está a ser bastante interessante e enriquecedor. A realidade que aqui se vive, voltando-me mais para a delinquência e o trabalho dos educadores sociais, está a ser uma “mina de ouro” para a nossa aprendizagem e obtenção de conhecimentos. Além do mais quando estamos num sítio diferente podemos realizar uma troca recíproca, por mim denominada “transmissão com retorno”, de ideias, metodologias, formas de actuar perante determinadas realidades, etc. , provenientes de países diferentes sendo portanto realidades também elas diferentes mas complementares.
Entra no autocarro da diversidade que é a Vida e vais ver que o preço do bilhete não será maior que o valor da aprendizagem."
Ana Soares


Papaqueio a minha experiência de Erasmus com embalo e alegria mas é difícil descrever em poucas palavras tudo aquilo que fui vivenciando neste comboio de experiências. Cada carruagem tem uma história que ficará guardada na minha memória, certamente que vou levar daqui uma bagagem carregada de conhecimento, experiências,  momentos e de histórias para contar. 
É verdade que foi difícil trocar o meu “porto seguro” pelo completo desconhecido mas, é verdade também que essa troca me tem proporcionado um verdadeiro “curso” intensivo de flexibilidades, conhecimentos e interações culturais. É uma fusão tão fantástica que acaba por se tornar indiscritível. 
Aprende-se a gerir trocos, a falar uma nova língua, a cruzar o lazer com as responsabilidades do trabalho e dá-se um salpicado multicultural à rede de amigos. O dia-a-dia, a saudade, as caras novas, os problemas que enfrentamos, o sentir de outros ares, a partilha de espaço, o respeito desse mesmo espaço e as relações interculturais é o que me move a querer viver tudo isto, é o que me tem vindo a fazer crescer.
Esta experiência é inesquecível! É como viver uma vida completamente nova somente no tempo em que dura o Erasmus. Estou a aproveitar, a viver e reter tudo o que isto me tem vindo a proporcionar.
Pouco antes de rumar neste shaker de vivências, Soraia, uma amiga nossa que se encontra a fazer Erasmus na Turquia, transcreveu-me um excerto de Gonçalo Cadilhe que dizia: “Sei que viajar proporciona alguns dos dias mais intensos e felizes da tua vida. Ainda mais se fores tu a decidir o teu itinerário, as tuas etapas e os teus interesses. A viagem será tão mais intensa e feliz quanto mais for tua”.  E a viajem está, sem sombra de dúvida, “a ser minha".

Saudades,
Mipa


“ Ceuta, cidade de poetas, filósofos, guerreiros, marinheiros e agora também de estudantes, constitui sem dúvida pelas suas características geográficas e culturais um local de grande aprendizagem para quem por aqui passa. Após dois meses para lá do estreito já me consigo sentir um bocadinho em casa, uma casa de paredes brancas com uma mirada para o mar e para a montanha, uma mirada para a mesquita e para a igreja, uma mirada para áfrica e outra para a europa… Isto é Ceuta: a porta de entrada e saída para dois mundos diferentes. Uma grande porta invisível e intocável mas cheia de sensações tão peculiares como só aqui se pode sentir.  Agora que restam dois meses mais de aventura posso dizer que já um longo caminho foi percorrido por estas ruas e bairros tortuosos mas jamais posso prever o que poderá a vir a acontecer, pois todos os dias são uma incógnita e nunca sabemos o que esperar… Assim é Ceuta, enigmática, misteriosa, encantadora… A pérola do Mediterrâneo que por tantos anos foi disputada entre reis, imperadores e generais agora rende-se ao olhar inquieto de um português curioso, cheio de vontade de a conquistar e ser conquistado por ela…” 
Frederico Nunes Jorge
Ceuta , 14 de Abril de 2012
Faz hoje precisamente dois meses que cheguei a Ceuta, e comigo trouxe na bagagem, a ambição, a vontade e a determinação de colocar em prática todos aqueles conceitos de que ouvimos falar, como a emigração e a interculturalidade. E, o programa Erasmus, é isso mesmo, estou a ter a oportunidade não apenas de estudar no estrangeiro, mas também de encontrar outras pessoas, conhecer novos estilos de vida, novas culturas, novos lugares e países.
Quando dou por mim a pensar, é um turbilhão de sentimentos. Por um lado, estou muito feliz por estar a passar momentos tão inesquecíveis, tanto a nível de formação como pessoal. A nível de formação é a possibilidade que estou a ter, de estar integrada numa equipa de trabalho no contexto da interculturalidade, que posteriormente vai ser uma mais-valia na minha profissão, o contacto que estou a ter com esta realidade, ou seja, toda esta aprendizagem e participação vai promover-me na minha vida futura. A nível pessoal, está a permitir-me consolidar conhecimentos, está a ser um exercício e valorização de competências e desenvolvimento de outras, como ainda testar a minha auto-confiança e autonomia fora do meu contexto, da minha cultura. Por outro lado, estou um pouco triste porque sinto muitas saudades, da família e amigos.
A parte disso, eu acho que as saudades mostram-me uma realidade diferente da que eu imaginei para mim. Pessoas das quais nunca imaginei que estaria distante. Algumas das mais especiais que encontrei, com certeza. Outras que eu nunca achava que o tempo poderia afastar. Pessoas que estão perto, mas muito além do meu alcance.
A única coisa que me consola (não diminui a saudade, mas ajuda a suportá-la) é saber que grande parte das ausências foram motivadas por circunstâncias diversas, e os caminhos que tomei estão a ser bonitos e condizentes com os meus sonhos e desejos.
Marta Luciano
“Ceuta que seja assim um ir para fora para crescer por dentro” foi desta forma que terminei o meu texto de motivação antes de embarcar nesta viagem. Na bagagem apenas trazia o conhecimento adquirido em 2 anos e meio, o carinho e apoio da família e amigos, e uma grande vontade de relatar e viver na primeira pessoa a experiência Erasmus. Agora o percurso desta viagem está a meio, a bagagem pouco a pouco vai ganhando o seu peso. Tem sido muito gratificante estar neste lugar de encontro de dois mares Mediterrâneo e Atlântico, e berço de quatro culturas, a Muçulmana, a Hindu, a Cristã e a Hebraica.
Há quem diga que a sabedoria não nos é dada. Cora Coralina dizia, “Saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes.". É preciso descobri-la por nós mesmos e eu estou a fazer o meu percurso, tenho tido oportunidade dia após dia acelerar o processo de me tornar independente, melhorar a minha capacidade de comunicação em Espanhol, conhecer novas pessoas, adquirir e vivenciar novas experiências e quem sabe estar a abrir horizontes para a vida profissional que se avizinha.
Juanmi, José António, Jafida, Chadi, Eva Ramírez e Ana são estes alguns dos nomes que me ajudaram a ver o mundo com outro olhar. “A Verdadeira viagem não está em sair a procura de novas paisagens, mas em possuir novos olhos” Marcel Proust
Os meus gestos não conseguem tocar em todas as pessoas, apenas naquelas com quem partilho o meu dia-a-dia, e as palavras essas chegarão longe. Por isso espero que estas cheguem a todos vocês, em especial aos que me dizem muito.

Vanessa Almeida

1 comentário:

  1. Somos Vanessa y Javi, vuestros compañeros de curso. Esperamos que hayais disfrutado de nuestra ciudad y que os lleveis un recuerdo bonito. Besoss

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