domingo, 25 de março de 2012

Há semanas rentáveis não há? - Semana 5 (12/03 a 18/03)

Começámos uma nova semana num veículo de emoções: Enérgico e intenso. Semana após semana as nossas expectativas são inúmeras, desde o momento em que decidimos viver esta aventura que ela tem sido um tornado de sentimentos. Entrámos num novo “mundo”, este que nos tem proporcionado momentos que dificilmente iremos esquecer. Começámos a adquirir novos hábitos, novas rotinas, novos amigos, novas experiências assim como novos conhecimentos fundamentais para a vida pessoal e profissional futura.



A segunda-feira apresentou-se para Fred, Ana e a Mipa com um nervoso miudinho pois foi o primeiro dia que estes tiveram contacto directo com o local de estágio. Começaram pelo “Equipo Medio Abierto”, a recepção, como já é habitual aqui em Ceuta, foi calorosa.  Conhecemos toda a equipa bem como as instalações onde exercem o seu trabalho de Educadores Sociais. A realidade da delinquência e exclusão social é dura e cada vez mais evidente e é aqui que entra o trabalho incansável, de resposta às carências dos menores, por parte desta equipa.

Para a Marta e para a Vanessa, esta foi mais uma semana de enriquecimento cultural. Na área de alfabetização e alfabetização digital continuaram a conhecer todos os métodos de ensino e a trocar experiências com as mulheres muçulmanas, com quem têm aprendido bastante sobre a sua cultura, inclusivamente, fizeram um vídeo sobre como fazer a dobra do “pañuelo” de duas formas distintas, para isso contaram com a ajuda de duas muçulmanas, Fátima e Malika, duas senhoras muçulmanas com quem têm vindo a conviver. Sem dúvida, que toda esta aprendizagem é inigualável e de um crescimento não só a nível profissional, mas acima de tudo pessoal.

“Saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes." (Cora Coralina).

Com a manhã de estágio concluída, chegou a hora de ir para a faculdade. O bando decidiu inscrever-se nas “Jornadas de Iniciación al Voluntariado”, esta foi mais uma iniciativa muito enriquecedora, onde tivemos a oportunidade de conhecer pessoas com diferentes experiências de voluntariado e alguns projectos europeus relacionados com o tema. 


Um novo dia começou e com ele um novo desafio: dar uma entrevista para uma rádio local. Pois é amigos, estamos a ficar conhecidos por estas bandas. 

 O desafio foi-nos proposto pela “radio cadenascer”, esta quis juntar todos os Erasmus na cidade para uma entrevista. Juntamente com César (da Guiné), Martina (da Bulgaria), Pietra (do Brasil), José António  e Pablo, fomos para o estúdio. O Fred e Ana foram os porta-vozes do grupo,  onde falaram sobre a experiência vivida nos últimos tempos assim como os deslumbres desta cidade.



Seguimos para um café-convívio, é estranho como os estudantes socializam com os professores sem hierarquias, num contexto mais informal do que estamos habituados. O facto da universidade ser um meio mais pequeno tende a aproximar mais as relações entre alunos, professores e funcionários. 


 Chegou a hora do segundo e último dia das jornadas do voluntariado. Este segundo dia marcou-nos de uma forma muito peculiar pois no meio de tantas pessoas encontrámos um português.
Ana, no intervalo da sessão, estava a procurar uma palavra no dicionário português/espanhol quando se houve uma voz: “estas a aprender portugués?” ao qual Ana responde: “no, yo soy portuguesa” e aí ouve-se em tom surpreso um “és portuguesa?”, foi um despertar de sentimentos inexplicáveis, todos fomos ao encontro daquela voz que nos soou como que em tom familiar. E ali estava o Filipe, um padre jesuíta em missão em Ceuta, que curiosamente é de Coimbra. Foi tão estranho quanto bom ouvir a nossa língua, depois de tanto tempo a conviver com pessoas a falar tudo menos português. A nossa a sensação de ouvir um “és portuguesa?”, foi das mais surpreendentes que vivemos.
 

Filipe está a fazer uma missão numa associação chamada “Élin”, uma associação que acolhe pessoas que, por algum motivo, tiveram que sair do país que residiam. Muitas delas ainda ilegais em Ceuta procuram nesta um refúgio para sobreviver nesta nova cidade e desejam um dia poder rumar à europa.
A acompanhar Filipe, estavam 5 jovens do Chade, que até ali eram meros participantes  sentados na plateia tal como nós, até que Jesus, representante da Élin, explicou as suas histórias. Foi como um “abanão” toda aquela narração pois estes tiveram que fugir do seu próprio país devido às circunstâncias de guerra que ali se viviam, buscando a vida no desconhecido. Toda esta sessão se fez marcar pelo que um deles disse, ainda que com um espanhol “afrancesado”, “Eu estou muito contente por estar aqui hoje porque desde que cheguei a Ceuta é a primeira vez que contacto com pessoas da minha idade, pois estas têm medo de nós e não nos falam”, foi então que se fez sentir um enorme silêncio e diferentes pensamentos começaram a pairar por toda aquela sala. Foi então que constatámos uma realidade “um pouco escondida”, e ouvimos histórias de vida que nos fizeram pensar que os nossos problemas são meros contratempos.
 

Nasce então um novo dia, e logo pela manhã os estagiários da área de menores, tiveram com Francisco (mais conhecido por Keko), Chefe da equipa do “Medio Abierto” este que se revelou um poço de sabedoria e que tem vindo a transmitir-lhes tudo o que sabe e de um modo que os deixa completamente compenetrados nas suas palavras.
Após isso, seguiram viagem para um dos bairros mais problemáticos de Ceuta: o bairro “Príncipe Alfonso”. Este é um bairro muito diferente do que tínhamos visto até hoje, sendo uma realidade distinta daquela a que estamos acostumados. O bairro situa-se na periferia de Ceuta, próximo da fronteira com Marrocos, onde habitam maioritariamente muçulmanos.
Acompanhados por Keko, foram conhecer o “Centro Integral EQUAL”, este é um centro que foi projectado para o combate da exclusão social e laboral. Nele existe uma equipa multidisciplinar que tem como objectivo preparar os alunos para a sua integração, desde psicólogas a pedagogas, dando-se primordial importância à aprendizagem do castelhano e outros tipos de formação, indo estas de encontro às necessidades das pessoas.


Pela tarde, o bando esteve por casa a recargar baterias para o resto da semana que se avizinhava. 


Com o despertar de quinta-feira, Marta e Vanessa seguiram para o se estágio, onde tiveram oportunidade de fazer uma entrevista a Manolo, um homem de 77 anos reformado de mecânica que nunca tinha mexido num computador, ainda mais quando a  parte electrónica sempre o fascinou. Neste momento, está na fase intermédia e a cada dia que passa  o seu desenvolvimento é notório. Todo este progresso se deve ao profissional/ formador António e, ainda a este Senhor com “ganas” de aprender.


Enquanto isso, Fred, Ana e Mipa foram conhecer a “Escuela de la Construcción” que visa promover a empregabilidade proporcionando uma formação voltada para o ramo da construção civil. Esta tem uma distinção hierárquica muito forte onde pudemos constatar que os alunos não têm acesso a mais nenhuma parte das instalações senão o piso correspondente à teoria e prática, tendo mesmo que efectuar a entrada pelas traseiras (tratamento especial não?).



Chegou a tarde e com ela o curso de Daríya, cuja aprendizagem e pronunciação é no mínimo divertida, para que tenham uma noção basta que coloquem uma batata quente na boca e tentem falar. Que tal? Estanho não? A pronuncia é difícil, as palavras soo-nos estranhas, mas tem sido um conhecimento essencial na nossa estadia.
Aprendemos a saudar as pessoas dizendo “salam u 3alaikum” ou qual a resposta deve ser “u 3alaikum salam”, entre inúmeras coisas, aprendemos o básico do dia-a-dia como: “Be-slama” que é adeus, “es-bah el jer” que significa bom dia, “laila sa3ída” que é boa noite, “em sal jer” que é como a nossa boa tarde e “shokran” que significa obrigado. 


Com a aula terminada, o grupo regressou a casa para o merecido descanso, esta semana foi um verdadeiro tornado carregado de novos conhecimentos.

O fim-de-semana estava prestes a bater a porta, mas antes Fred, Mipa e Ana começaram a conhecer casos práticos de delitos cometidos e medidas aplicadas. Mais uma vez foi indescritível toda aquela informação pois não tínhamos bem a noção de que um menor de 15 anos possa ter já tantos anos de delinquência. Com os casos práticos analisados, seguiram para o “juzgado”, aí conheceram as instalações assim como o pessoal técnico e ainda tiveram a oportunidade de assistir a uma intimidação de uma criança de 15 anos.  

 No âmbito do seu estágio curricular, Marta e Vanessa juntamente com outros estudante Erasmus, Cesár e Santigo tiveram a oportunidade de conhecer a Fundação Crisol, de Culturas 2015 presidida pelo Comissário  Jesús Fortes Ramos. Este encontro teve como tema, os Erasmus na cidade de Ceuta e o facto de sermos os primeiros portugueses aqui na cidade de Erasmus. Para começar estes, tiveram uma breve contextualização sobre a criação da fundação, onde foram reforçadas essencialmente as ligações existentes entre Portugal e Ceuta onde foi mencionada a seguinte expressão: “Ceuta, no es donde termina España. Aquí es donde Europa comienza.”


Seguiu-se uma conferência de imprensa, onde estas duas jovens portuguesas tiveram oportunidade de dar o seu parecer acerca de Ceuta e da sua ligação com Portugal.


Fred, Ana e Mipa ao final do seu estágio puderem juntar-se aos seus colegas onde foram encaminhados para uma sala para visualizar um vídeo sobre Ceuta e a sua história. 



De seguida fomos convidados a entrar num autocarro para assim participarmos numa visita guiada aos pontos extremos de Ceuta onde a perspectiva se faz segundo uma panorâmica fantástica de toda a cidade (paragem no Mirador de Mirador Santa Isabel II e no Mirador S. António). Tivemos ainda o privilégio de observar a famosa montanha da “mujer muerta”. Resume-se assim a manhã como extremamente agradável e com um enriquecimento cultural elevado. 




Mais um dia do curso de Daríya pela frente em que Vanessa, Marta e a Ana foram mais cedo enquanto a Mipa e o Fred foram buscar os passes de autocarro. E perguntam vocês: “O que é que isto tem de interessante?” Pois bem, o “melhor” veio a seguir quando estes presenciaram o primeiro choque cultural desde a sua estadia na cidade, uma cena de pancadaria entre duas senhoras, uma das quais tinha o conhecido “pañuelo”. Foi no mínimo assustadora toda aquela situação pois  todo o autocarro estava aos gritos, a tentar separar ambas de todo aquele aparato.  

 
Para terminar esta tão  produtiva semana nada melhor que um “recargar de baterias”, para tal, o grupo aceitou o convite de Jesus e Raquel para uma acampada na praia com direito a churrasco. Já na praia, conhecemos Pablo, Davi, Juanjin e Cristina, e tal como Raquel e Jesus são todos extremamente simpáticos. 
 Um serão em que estávamos apenas 10 pessoas, uma cadela, uma fogueira, o mar e as estrelas e a isto juntou-se o convívio, a troca de experiências, as gargalhadas, os jogos e boa música. Foi sem dúvida um dos momentos mais “zen” que o grupo teve até agora.  







No sábado, como já é habitual, houve o tradicional jantar/convívio mas desta vez com um convidado: o Pablo (que conhecemos na acampada). Marta brindou-nos com um banquete delicioso. Um patê para entrada, uma sala russa com panados para o jantar e por fim uma mousse de lima. No fim deste, permanecemos na sala num ambiente de amena cavaqueira, onde Pablo nós ensinou imensas coisas sobre a cultura muçulmana e sobre Marrocos. 




O domingo e o descanso chegaram juntos, e a tarde serviu para o habitual descanso comunitário mas com a diferença que terminámos o dia numa esplanada com o Filipe, o missionário português que conhecemos nas jornadas. Foi bastante prazeroso podermos conviver com uma pessoa portuguesa e ainda para mais sendo este um homem tão vivido e com tantos conhecimentos.  




E pronto caros visitantes assim foi mais um reboliço de emoções e vivências.Esperem pela próxima semana que de certo trará novas experiências...

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